terça-feira, 24 de agosto de 2010

A lenda do Pé-de-Anjo

O Pé-de-anjo é uma das assombrações mais antigas de Teresina, que teve seu auge quando a Capital ainda não possuía uma vida noturna tão agitada quanto hoje. Atualmente são poucas as pessoas que conhecem ou já ouviram falar do lendário “Pé-de-anjo”.
Ao contrário de muitas das aparições míticas de Teresina, o Pé-de-anjo não era um fantasma horripilante, pelo menos essa não parecia ser sua intenção. Surgia sob a forma de um típico sertanejo, com chapéu de palha na cabeça e pés descalços. Era visto sempre acompanhado de um jumento e de duas malas.
Nos tempos em que os encontros com este fantasma eram relatados, afirmava-se que a madrugada era o horário favorito para ele aparecer, e isso pode ser interpretado como um reflexo do medo que algumas pessoas da época tinham em relação às noites na Cidade (por conta da escuridão e de diversos outros fatores. Ainda é importante levar em conta o contexto social da época, quando a iluminação teresinense era bem precária).
Os boêmios que retornavam de suas farras noturnas eram os que, com mais frequência, encontravam-se com esse caboclo fantasmagórico. Nos encontros, o Pé-de-anjo se dirigia até a pessoa e pedia:
“Moço, por favor, por sua delicadeza, me ajude a botar essa carga nesse jumento”
A pessoa atendia prontamente ao educado pedido do homem cansado, pois não sabia que se tratava de uma assombração. As duas malas que o caboclo trazia não eram grandes, mas o peso era enorme. Movidos pela curiosidade, as pessoas sempre perguntavam o que havia dentro das malas. Sempre que era questionado, o Pé-de-anjo respondia balançando a cabeça:
“Nesta mata aqui é pé de anjo, nessa outra aqui é o puro e sem mistura suco de uva roxa”
Sempre ao término de sua resposta, o Pé-de-anjo desaparecia no ar, juntamente com sua carroça e as malas. Depois disso a pessoa ficava sem entender nada, com uma mistura de medo e confusão. A única coisa a fazer naquele momento era sair dali e voltar para casa. 

Pé-de-anjo
Por Rafael Nolêto

Caboclo de pé rachado
Vagando pela cidade
Velho homem maltratado
Sem um pingo de vaidade

Carregando duas malas
É homem de poucas falas
Pede ajuda a quem encontra
Sem querer fazer afronta

Quem pergunta o que há na mala
Se espanta ao saber
Logo que o caboclo fala:
- Pés de anjo eu vim trazer!

Aí tudo some de vista
Parece uma ilusão
Uma assombração da pista
Que assusta o coração.

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