O que é?
A Bruxaria Italiana ou Stregheria é uma das diversas formas de religiosidade pagã praticadas na atualidade, também é conhecida como “Vecchia Religione”. A expressão antiga religião (ou velha religião) é muitas vezes utilizada como sinônimo para as crenças e práticas dessa religiosidade. Para alguns, existem vários tipos de adeptos da bruxaria italiana e por isso, surgiram definições distintas entre os termos Stregheria e Stregoneria. O termo Stregheria é usado para definir uma religião pagã iniciática com raízes nos antigos cultos pré-cristãos italianos. Já o termo Stregoneria define uma prática mágica desvinculada de qualquer religião, ou seja, é apenas a prática de bruxaria e feitiçaria, com influências italianas.
As Raízes
A stregheria possui raízes nos antigos cultos praticados na região da península itálica e do Mediterrâneo Antigo. Há mais ou menos 1.000 anos a.C, a região da atual Itália era dividida em diversos reinos, dominada por povos com cultos variados. O povo etrusco era um dos que habitavam a região, seus cultos foram profundamente influenciados pelos gregos e pelas práticas do período neolítico. Quando foram dominados pelos romanos, os etruscos repassaram essas influências gregas para os dominadores. Além dos etruscos, outros povos com cultos pagãos também habitavam a região. Toda essa diversidade de crenças convivendo em um só lugar fez da Roma Antiga um imenso caldeirão cultural e a Velha Religião italiana acabou herdando traços dessas religiosidades.
Os antigos adeptos do paganismo na Itália tinham como principais centros as regiões da Toscana (norte italiano) e Benevento (centro italiano), mas tudo isso mudou com a chegada da dominação cristã a Roma, quando o paganismo entrou em declínio e o cristianismo se tornou a religião dominante. Durante o período de perseguições da igreja, muitos pagãos e seguidores da vecchia religione continuaram com suas crenças, mas escondidos, transmitindo os conhecimentos ocultos a cada nova geração. Por esse motivo a stregheria também é conhecida por muitos como “bruxaria hereditária”, pois foi principalmente através das transmissões orais (dentro das famílias) que o paganismo italiano sobreviveu até os dias atuais.
Bruxaria Italiana saindo das Sombras

Clãs e Subvertentes
Atualmente a stregheria pode ser considerada uma religiosidade bem heterogênea, com práticas, princípios e regras que podem variar de acordo com o grupo. Apesar de tantas particularidades, as linhas e subvertentes da stregheria têm aspectos em comum que as caracterizam como parte de um mesmo grupo. A maioria dos Clãs e grupos (também chamados de congregas) é politeísta, com um amplo panteão de divindades, geralmente greco-romanas ou etruscas. Também há clãs modernos da stregheria com práticas duoteístas, que centralizam seus cultos em duas divindades principais, um Deus e uma Deusa, representados por Diana e Dianus Lucifero.
Alguns stregoni e streghe (bruxos e bruxas) atuais fazem parte de grupos bem fechados, enquanto outros vivenciam solitariamente suas crenças e ritos. A iniciação é um requisito fundamental para que se ingresse em diversas tradições da stregheria, mas também existem clãs onde esse “rito de iniciação” nem sequer existe, já que surgiu a partir de influências da magia cerimonial. Muitos bruxos italianos herdam suas práticas da própria família, nesses casos a stregheria é vista geralmente como um “dom natural”, uma herança mágica de família. Quando a stregheria é transmitida de forma hereditária, é normal que as práticas e os ensinamentos se mantenham restritos à própria família, sendo que não se pode ingressar no culto a não ser que se faça parte da mesma.
A bruxaria italiana como um todo é um conjunto de práticas muito amplo, e por isso mesmo, surgem muitas confusões relacionadas a termos e conceitos. Enquanto há grupos cultuando deuses pagãos, também há streghe e stregoni que cultuam figuras cristãs, como santos católicos e até mesmo “demônios”. As ramificações existentes na stregheria são comumente chamadas de Clãs ou Tradições, cada uma com seu próprio conjunto de regras e preceitos. Algumas tradições atuais são a Aridiana e Ariciana (ambas fundadas por Raven Grimassi). Além dessas também existe a benedicária (caracterizada pelo culto a santos católicos) e outras tradições hereditárias e familiares. Em diversos dialetos italianos existem palavras usadas como sinônimos para “streghe”, Animulare, Tanarra, Janare, Strie, Strighe, Borde, Magare, Majare, Cogas, Masche e Basure são apenas algumas delas.
A Tradição Italiana é identificada como a Vecchia Religione, mas esse é um termo que compreende uma grande variedade de vertentes pagãs com raízes nos cultos pré cristãos da Itália. Por isso é importante perceber a riqueza cultural e a diversidade de cultos existentes. Com base em tudo o que conheço, eu dividiria a tradição italiana atual em dois grandes grupos. São eles:
*Culto de Arádia: Identificada como Stregheria. Nessa vertente a Deusa Diana é reconhecida como Regina delle Streghe, ou Rainha das Bruxas. Já Arádia é reconhecida com sua filha, responsável pela disseminação da bruxaria na Terra.
*Streghe del focolare (Bruxas de casa): São pessoas que praticam a bruxaria em sua própria terra, solitáriamente ou em família, concentrando-se em práticas mágicas como herbologia e divinações. Pouco difundida nas regiões urbanas. Algumas streghe desse grupo mesclam elementos católicos em suas crenças e práticas.
Crenças, Práticas e Festivais
O conjunto de conhecimentos da Stregoneria é chamado de “mistérios stregonesci” e são resultados de influências etruscas e romanas (como já foi dito, o povo romano entrou em contato com diversos outros povos, que por sua vez influenciaram muito as crenças das streghe). Muitos rituais têm como finalidade a conexão com antigos Deuses para a obtenção de curas, fertilidade, cura de malocchio (mau olhado em italiano), boa fortuna. Também existem feitiços e ritos destinados a vingança e magia negra contra inimigos.
Assim como na wicca moderna e na maioria das religiosidades pagãs, são comemorados ritos solares e lunares, ligados às estações do ano e a ciclos agrícolas. Os principais festivais comemorados são oito, correspondentes aos ciclos solares (Solstizio d’Inverno; Candelora; Equinozio di Primavera; Calendimaggio; Solstizio d’Estate; Festa del Raccolto; Equinozio d’Autunno e Festa dell’Ombra). Os mistérios stregonesci são transmitidos aos membros do clã geralmente durante essas celebrações, mais comumente durante a Lua Cheia.
Entre a maior parte dos grupos é comum a crença nos “dons mágicos”, ou seja, poderes sobrenaturais herdados pelo bruxo, que podem ser usados tanto para o bem como para o mal. O poder de fascinação é um desses dons, é uma capacidade que o bruxo tem para encantar apenas com o olhar. Aos Stregoni são atribuídas as capacidades de lançar bênçãos e maldições, realizar curas com ervas e feitiços, proteger contra magia negra, dentre outras coisas.
Um comentário:
Essa coisa de bênçãos e maldições está mais ligada à feitiçaria judaica... no geral o resto está bem delimitado...
A bíblia cita que Moisés dividiu as 12 tribos em 2 grupos de 6, um sobre o monte Ebal para abençoar e outro sobre o monte Garizim para amaldiçoar.
Muitas pessoas que adentram o politeísmo mas não conseguem abandonar conceitos cristãos, tratam-no como os monoteístas, como paganismo, ou seja, como uma heresia... e quando se deparam com tradições bruxas politeístas... logo tratam a bruxaria também como heresia... os mistérios da bruxaria vão além de adoração ou culto, além da herbologia, e principalmente muito além de bênçãos e maldições... mas mistérios são mistérios, claro... e só se entendem vivenciando... além de que alguns são secretos.
E além dessa distinção entre stregheria e stregoneria... alguns autores ainda tentam diferenciá-las da bruxaria... logo não as definiriam como bruxaria italiana e nem magia italiana, como eu particularmente faço uma distinção entre magia e bruxaria... e entre bruxaria e feitiçaria... mas essa é outra história...
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