terça-feira, 28 de junho de 2011

Ex-votos: Tradição mágico-religiosa

A expressão ex-voto é uma abreviação latina de ex-voto suscepto, que traduzido para o português, significa "o voto realizado", ou "o voto bem sucedido". Esse termo é aplicado para denominar uma grande variedade de objetos ofertados a santos, divindades e até personagens folclóricos como sinal de agradecimento por uma graça alcançada.

Ex-votos podem ser desenhos, imagens esculpidas, placas, garrafas com água, fotografias e diversos tipos de manifestações artísticas religiosas que traduzem os agradecimentos de fiéis. 

Pra que servem?

Ex-votos como este são
produzidos sob encomenda
por alguns artesãos
Esses objetos costumam ser deixados em locais de culto religioso ou em locais considerados sagrados para os devotos. Servem para representar uma graça alcançada, sendo simbolos de um pedido feito a algum arquétipo religioso particular. Por exemplo, se um fiel deposita um ex-voto em forma de coração, provavelmente seu pedido tem alguma ligação com a cura desse órgão, ou também pode ser associado com pedidos relativos a amor e relacionamentos. 
A variedade de ex-votos depositados por fiéis é enorme, e há inclusive grupos de pesquisa acadêmica dedicados especialmente ao tema. Um ex-voto é muito mais que um simples objeto de culto, pois nos permite interpretar diversos valores embutidos em sua simbologia, valores como a posição social, relações familiares e sagas individuais de fiéis e romeiros.

Como tudo começou?

A prática de agradecer a divindade através de ex-votos é bem antiga, com registro em várias épocas e culturas diferentes. Quanto a origem desse costume, não encontrei fontes exatas, mas alguns historiadores defendem que não seja um costume originalmente cristão, pois sociedades pré-islãmicas e grupos religiosos pré-cristãos já realizavam práticas semelhantes, depositando objetos votivos em honra a suas divindades.

Ex-votos no monumento
ao Finado Gregório (Teresina)

Segundo os registros históricos, o costume de depositar ofertas votivas foi incorporado pelo cristianismo por volta do século IV, quando foi absorvido junto a outras práticas pagãs. A tradição que antes era associada à magia e ao culto de antigos Deuses ganhou uma reinterpretação e uma nova significação, mas sem perder o lado místico.

Inicialmente, a tradição foi adotada por membros da nobreza, que encomendavam seus objetos votivos de artistas conhecidos. Eram geralmentes pinturas ou placas de madeira com ilustrações temáticas, que predominaram até o século XVI. Com a disseminação do costume pelo ocidente, os ex-votos foram ganhando novas formas e se tornando mais comuns entre as classes populares.

Ex-votos em madeira
representando partes
do corpo

A difusão do costume

Após essa incorporação do costume pelos cristãos, a prática se expandiu ao longo dos séculos, atingindo a orla norte do Mediterrâneo no século XVII e o interior da Europa no século XVIII.
Na América do Sul e América Central a tradição dos ex-votos começou a ser difundida junto com a colonização portuguesa e espanhola, e com as missões católicas que nos deixaram essa herança religiosa. No Brasil, esse costume começa a ser registrado a partir do século XVIII e pode ser visto até os dias atuais, apesar de ter sofrido um pequeno declínio a partir do século XX.

Ex-votos hoje

Placas na árvore onde o motorista
Gregório foi martirizado (Teresina)
Atualmente a tradição de depositar oferertas votivas pode ser encontrada em praticamente todo o mundo. No Brasil, especialmente no nordeste, é comum encontrar diversos pontos onde essas ofertas podem ser vistas, dedicadas tanto a santos católicos reconhecidos pela igreja como também a alma de beatos, falecidos conhecidos e santos populares, aos quais são atribuídos muitos milagres.

Fotos: Rafael Nolêto

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