A expressão ex-voto é uma abreviação latina de ex-voto suscepto, que traduzido para o português, significa "o voto realizado", ou "o voto bem sucedido". Esse termo é aplicado para denominar uma grande variedade de objetos ofertados a santos, divindades e até personagens folclóricos como sinal de agradecimento por uma graça alcançada.
Ex-votos podem ser desenhos, imagens esculpidas, placas, garrafas com água, fotografias e diversos tipos de manifestações artísticas religiosas que traduzem os agradecimentos de fiéis.
Pra que servem?
Ex-votos como este são produzidos sob encomenda por alguns artesãos |
Esses objetos costumam ser deixados em locais de culto religioso ou em locais considerados sagrados para os devotos. Servem para representar uma graça alcançada, sendo simbolos de um pedido feito a algum arquétipo religioso particular. Por exemplo, se um fiel deposita um ex-voto em forma de coração, provavelmente seu pedido tem alguma ligação com a cura desse órgão, ou também pode ser associado com pedidos relativos a amor e relacionamentos.
A variedade de ex-votos depositados por fiéis é enorme, e há inclusive grupos de pesquisa acadêmica dedicados especialmente ao tema. Um ex-voto é muito mais que um simples objeto de culto, pois nos permite interpretar diversos valores embutidos em sua simbologia, valores como a posição social, relações familiares e sagas individuais de fiéis e romeiros.
Como tudo começou?
A prática de agradecer a divindade através de ex-votos é bem antiga, com registro em várias épocas e culturas diferentes. Quanto a origem desse costume, não encontrei fontes exatas, mas alguns historiadores defendem que não seja um costume originalmente cristão, pois sociedades pré-islãmicas e grupos religiosos pré-cristãos já realizavam práticas semelhantes, depositando objetos votivos em honra a suas divindades.
Ex-votos no monumento ao Finado Gregório (Teresina) |
Segundo os registros históricos, o costume de depositar ofertas votivas foi incorporado pelo cristianismo por volta do século IV, quando foi absorvido junto a outras práticas pagãs. A tradição que antes era associada à magia e ao culto de antigos Deuses ganhou uma reinterpretação e uma nova significação, mas sem perder o lado místico.
Inicialmente, a tradição foi adotada por membros da nobreza, que encomendavam seus objetos votivos de artistas conhecidos. Eram geralmentes pinturas ou placas de madeira com ilustrações temáticas, que predominaram até o século XVI. Com a disseminação do costume pelo ocidente, os ex-votos foram ganhando novas formas e se tornando mais comuns entre as classes populares.
Ex-votos em madeira representando partes do corpo |
A difusão do costume
Após essa incorporação do costume pelos cristãos, a prática se expandiu ao longo dos séculos, atingindo a orla norte do Mediterrâneo no século XVII e o interior da Europa no século XVIII.
Na América do Sul e América Central a tradição dos ex-votos começou a ser difundida junto com a colonização portuguesa e espanhola, e com as missões católicas que nos deixaram essa herança religiosa. No Brasil, esse costume começa a ser registrado a partir do século XVIII e pode ser visto até os dias atuais, apesar de ter sofrido um pequeno declínio a partir do século XX.
Ex-votos hoje
Placas na árvore onde o motorista Gregório foi martirizado (Teresina) |
Atualmente a tradição de depositar oferertas votivas pode ser encontrada em praticamente todo o mundo. No Brasil, especialmente no nordeste, é comum encontrar diversos pontos onde essas ofertas podem ser vistas, dedicadas tanto a santos católicos reconhecidos pela igreja como também a alma de beatos, falecidos conhecidos e santos populares, aos quais são atribuídos muitos milagres.
Fotos: Rafael Nolêto
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